quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A evolução da cajucultura no Ceará

A cajucultura no Ceará prosperou nos anos setenta como resultado dos incentivos fiscais do Finor e do Fiset reflorestamento que contribuiu para a implantação de imensos cajueirais, cujo processo de plantio continuou nos oitenta por ser uma rara opção de agricultura comercial no litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte. Nos anos noventa a castanha de caju sofreu grave redução de preços recebidos pelos produtores, abaixo mesmo do custo de produção, levando a uma situação de inviabilização econômica da produção comercial, voltando-se para práticas semelhantes à época do extrativismo, agravada pelo estado de abandono das plantações e pela progressiva degradação dos solos, resultado da ausência de uma política consistente de sustentação deste produto de exportação. De fato, o rendimento médio da castanha-de-caju passou de 589 kg/ha no qüinqüênio 1970-74 para apenas 246 kg/ha no período 2005-07, uma queda 58%.



Tabela 1 – Rendimento médio da castanha-de-caju
no estado do Ceará - 1970-2007
(média dos qüinqüênios)



No início do período em análise, o Brasil expandiu a sua participação na produção mundial, passando de 5,5%, no período 1970-74, para 10,2%, no intervalo de 1975-79; de 16,2% no segmento 1980-84 e para 17,8% em 1985-89. A situação se reverteu, perdendo a sua participação a partir de 1990, caindo para apenas 6,6% no período 2000-05. No outro lado do mundo, observa-se uma grande expansão da produção em países como Vietnan, que acusou uma expansão de mais 250%, passando de 267 mil toneladas no período 1970/74 para 961 mil toneladas em 2005/07; a Nigéria com a expressiva aceleração de 428%, saindo de 125 mil toneladas para 660 mil toneladas no citado intervalo; e finalmente a Índia, que passou de 430 mil toneladas para 620 mil toneladas. Estes três países respondem, atualmente, por 70% da produção mundial, conforme os dados da FAO.

No quinquênio 1970-74 , o rendimento médio da castanha de caju do Brasil que era de 387 kg/ha passou para 269 kg/ em 2005/07, acusando uma queda 31%, contra uma expansão, no mesmo período, de 69% para Índia, de 115% para Nigéria, de 61% para Tanzânia, de 187% para Vietnam e de 50% em relação à média mundial, ou seja, enquanto o mundo vem registrando incrementos nos rendimentos agrícolas de castanha de caju, o Brasil vem declinando. O Ceará registrou uma queda maior do que a média do Brasil (58% contra 31%). Esta informação é muito séria, pois demonstra que o Brasil vem perdendo espaço em uma cultura com forte aptidão para produção.

Neste momento, é importante lembrar que a Embrapa Agroindústria Tropical e a estação de pesquisas de Pacajus-CE é sem dúvida o maior e melhor centro de pesquisa de desenvolvimento de tecnologia de caju, de onde o que é considerada a melhor qualidade genética do caju é difundida para o resto do mundo. Por paradoxal que pareça, esta mesma tecnologia adotada com sucesso em outros países não é adotada no Brasil, exceto algumas variedades para produção de pedúnculo destinadas à comercialização in natura.

Tabela 2 – Evolução do rendimento médio em kg/ha de castanha de caju, nos países selecionados. Período 1970 a 2007

A redução do rendimento agrícola da castanha de caju no Ceará foi o resultado da queda do preço médio recebido pelo produtor a partir de 1990. Enquanto o preço médio recebido pelo produtor por tonelada de castanha de caju ficou praticamente estável entre US$396/ton em 1970/74 e US$406/ton em 2005/07, o preço médio de exportação da amêndoa da castanha de caju cresceu 207%, passando de US$1433/ton em 1970/74, para US$4406/ton em 2005/07. A relação de preço recebido pelo produtor de castanha de caju e o preço médio de exportação da amêndoa da castanha de caju, calculado em termos de média qüinqüenal, sofreu um forte declínio a partir de 1990, em prejuízo do produtor rural, cuja participação que era de 111% no período 1970-74, passou para 37% em 2005-07, ou seja, o preço médio recebido pelo produtor de castanha sofreu um expressivo declínio de 74%, inviabilizando a produção. Este dado revela que, enquanto os demais países expandem a produtividade e a produção, a produção de castanha de caju no Ceará e no Brasil ficou praticamente estagnada.

No caso do Ceará, a situação é bastante preocupante, pois a cajucultura constitui uma das bases da agricultura de exportação, de geração de emprego, renda e riqueza, cujo desempenho obtido no presente momento revela a ausência de uma política estadual consistente de sustentação do setor rural, onde subsistem quase um terço da população, engajado na produção e outro terço que trabalha na prestação de serviços para o setor, isto é, cerca de dois terços da população do Ceará ainda depende da economia rural.

Demartone Coelho Botelho
Economista e representante da UFC no GCEA/IBGE-CE




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9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Importante contribuição à cajucultura cearense.
    Parabéns pela iniciativa!

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  3. Prezado Dr. Demartone,

    Parabenizo-o pela louvável iniciativa de formar esse blog e compartilhar com os amigos, ex-colegas e os internautas em geral seu enorme conhecimento e experiência técnica acumulados no trato e análise de estatísticas econômicas, em especial do setor agrícola cearense.

    Sempre à disposição,

    Economista José Nelson Bessa Maia
    Brasília-DF

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  4. Demartone,

    Você é uma figura inoxidável, uma autarquia perambulante, um cosmopolita e globalizado. Parabéns pelo Blog.
    Do seu amigo,

    Albert Mozart

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  5. Prezado Nelson

    Excelente trabalho


    Abraço

    Demartone

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  6. Amigo Demartone,

    Gostaria de lhe parabenizar pela iniciativa de criar este Blog que servirá de instrumento de divulgação dos seus estudos econômicos sobre o Agronegócio cearense. Suas avaliações sobre o setor de frutas são muito consistentes e merecem chegar aos que tomam decisões que possam afetar o setor produtivo, em especial os pequenos produtores.

    Erildo Pontes (Engenheiro Agrônomo)

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  7. Demartone,

    Parabéns pelo Blog e pelos artigos de alto nível.

    Raimundo Reis

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  8. Demartone,

    É bom fazer parte do rol de seus amigos. Parabéns por esta brilhante forma de divulgação de seus trabalhos, desta forma seremos agraciados com sua idéias.
    Foi muito bom conviver com vc durante anos, aprendí muito, obrigado

    Jorge Pinto

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