(**) José Nelson Bessa Maia
A agricultura foi desde o século XIX o esteio da economia cearense. Apesar do clima semi-árido e das estiagens, o homem do campo na sua labuta contra as intempéries contribuiu com a produção de alimentos e insumos para a incipiente industrialização e a manutenção do emprego de grande contingente da população ativa. No entanto, os baixos níveis de tecnologia e capital, a concentração fundiária, a baixa qualificação da população e a precária infraestrutura impuseram baixos níveis de produtividade à mão-de-obra e modestos rendimentos das culturas, fatores estes de perpetuação da pobreza e atraso nas áreas rurais. A industrialização a partir da década de 60 e 70, a reboque dos incentivos fiscais da SUDENE, apenas criou um pólo de atração para o êxodo rural, mas pouco contribuindo para a modernização da agricultura.
Somente com o “Projeto das Mudanças” (após 1987) é que o desenvolvimento rural passou a ser encarado de frente: i) com os esforços para expansão da oferta e gerenciamento dos recursos hídricos (construção de barragens e gestão de bacias hidrográficas) com apoio financeiro e assistência técnica de organismos internacionais e, ii) com a formação de um setor empresarial rural nos moldes do agronegócio. Com essas duas estratégias apoiando-se e reforçando-se mutuamente, a agricultura cearense passou a ter mais chances de enfrentar os contratempos do clima semi-árido. Com efeito, a partir de 1995-2006, apesar de episódios de seca e/ou semi-estiagens, a agricultura cearense prosperou, se tornou mais produtiva e ampliou sua fatia nas exportações, gerando mais renda e empregos de melhor qualidade para os cearenses no interior. Políticas públicas inovadoras para o setor agrário e rural contribuíram para esse resultado.
No entanto, a partir de 2007, com as mudanças políticas ocorridas no Estado, a agricultura passou a afastar-se do modelo de agronegócio e regredir a formas pretéritas de exploração, com pouca ênfase em eficiência e rentabilidade, ingredientes estes para o retrocesso da empresa agrícola e da agroindústria e perda do setor em termos de valor adicionado na economia cearense e nas exportações, movimento contrário ao ocorrido no Brasil como um todo. Corroborando com essa análise, a média do Valor Bruto da Produção (VBP) (em valores constantes) no período 2007-2010 atingiu R$ 607,1 milhões, 11,6% abaixo da média de 2003-2006, e 13,5% abaixo da média de 1999-2002, assinalando, portanto, dois períodos sucessivos de governo de retração do VBP agrícola em termos reais. Em que pesem os picos de incremento na produção física, a queda nos preços dos produtos agrícolas tem causado uma retração na renda real do setor.
(**) José Nelson Bessa Maia é economista, mestre em Economia pela UnB, ex-secretário de assuntos internacionais do Governo do Ceará (1995-2006) e doutorando em Relações Internacionais na UnB. E-mail: nbessamaia@terra.com.br
http://demartone.webnode.com/news/o-retrocesso-do-agronegocio-cearense-/
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