sexta-feira, 16 de março de 2012

Cultura

Os Estados Unidos têm a cultura do vencedor, onde todos procuram ser vencedores. O sucesso pessoal é valorizado como o grande objetivo na vida de cada um. Nem todos atingem o estrelato, mas todos são igualmente estimulados, cada um sua área, a tentar ir mais longe. O ideal cultural é chegar à idade madura, olhar para trás e dizer que venceu. A pior pecha que se pode atirar em um americano é a de que se trata de um perdedor. Ele não é apenas alguém que ficou em desvantagem, é inferior e responsável pelo fracasso.
No Brasil, ao contrário, o sucesso sempre dá ensejos a suspeitas e desconfianças. Tom Jobim disse: "O sucesso no Brasil é considerado ofensa pessoal.". Nos Estados Unidos, aquele que não atinge certa posição econômica tende a sentir-se diminuido em seu círculo social, aqui esse indivíduo seria tratado com comiseração ou visto como vítima de causas adversas. O círculo social tende a se solidarizar com essa pessoa. Daí culpar o governo, o sistema, ou alguma entidade pelo fracasso. É uma postura oposta à que os americanos sustentam diante do fenômeno. Lá glorifica-se o sucesso e despreza-se o frustrado. Aqui, cultua-se o coitadinho e suspeita-se do progresso. Dois brasileiros disseram: "O Brasil é um país que puxa a gente para baixo" ( Bruno Barreto), e o "Brasil tem a cultura do coitadinho" ,(Fallabela). A suposição de que as carências sociais apenas refletem a incapacidade das pessoas afetadas é simplória e deve ser repelida. Passar, porém, ao extremo, como se a origem dos problemas sociais fosse sempre incompetência do governo, ou das elites, ou o que for, é igualmente rasa como análise.
Jogar sobre os ombros dos pobres a culpa por sua pobreza é mistificar a suposta capacidade de assegurar oportunidades iguais a todos. Mas repetir que o Brasil é imutável em sua perversidade e na insensibilidade das suas elites é manifesta descreça gratuita. Não estamos fechando os olhos à realidade nem pretendemos oferecer pretexto a acusações de insensibilidade social. O problema diz respeito à questão cultural de como diferentes paises se vêem a si mesmos. Existe uma tendência no Brasil a atribuir os males que nos afligem a alguma conspiração. Se algo nos atinge é porque alguém lá de fora tramou para que isso acontecesse. A conspiração pode ser interna: se algum grupo social se sente prejudicado, a culpa é do governo, das elites, dos empresários, ou outros que trabalham na calada da noite para causar aquele resultado. Essa ideia de conspiração é tambem arraigada no imaginário popular. No que se refere à realidade econômica brasileira, a visão conspiratória esrá vinculada a duas teses: a da culpa vinda de fora, e a da voracidade do governo. Se o país não progride e não consegue melhorar seu padrão de vida, a culpa só pode ser lá de fora. Uma das características dos paises subdesenvolvidos é a contínua busca de bodes expiatórios para explicar frustrações internas. Torna-se um esporte para explicar a pobreza. É dificil reconhecer que a culpa ESTÁ EM NÓS, e não nos demônios. CRITICAR A DOMINAÇÃO EXTERNA É ESPORTE DA ESQUERDA, DENUNCIAR VORACIDADE DE GOVERNO É ESPORTE DA DIREITA. No fundo, são concepções semelhnates, decorrem da mesma propensão a acreditar que alguém conspira contra nós.



Lamounier e Giambasi


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