sexta-feira, 25 de maio de 2012

Amizade


É espantoso quão fácil e rapidamente a homogeneidade ou a heterogeneidade de espírito e de ânimo entre os homens se faz manifesta na conversação – ela se torna sensível à menor situação. Entre duas pessoas de natureza heterogênea, que conversam sobre assuntos mais estranhos e indiferentes, cada frase de um desagrada ao outro, e em muitos casos irritará. Naturezas homogêneas sentem de imediato em tudo, certa concordância que, em se tratando de uma grande homogeneidade logo converte para uma harmonia perfeita, para o uníssono. A partir disso, explica-se em primeiro lugar porque os tipos ordinários são tão sociáveis e em qualquer ligar encontra boa companhia com tanta facilidade – gente estimada, amável. Com os indivíduos incomuns acontece o contrário, e tanto quanto mais distintos forem, de tal maneira que de tempos em tempos, em seu isolamento, podem alegrar-se de ter descoberto em alguém uma fibra, por menor que seja, homogênea à sua. Espíritos eminentes fazem seus ninhos nas alturas, como as águias solitárias. Em segundo lugar, isso explica porque os indivíduos de disposição igual se reúnem de imediato, como por atração magnética: é que as almas afins, já de longe se saúdam. Temos oportunidade de observar isto, com frequência, nas pessoas mal intencionadas ou pouco inteligentes, mas apenas porque estas pessoas existem em legiões, enquanto as melhores e excelentes são e se intitulam naturezas raras. Numa grande associação, dois verdadeiros patifes logo se reconhecem, como se portassem um distintivo, reunindo-se de imediato para tramar golpes baixos ou traição. Num grupo composto de pessoas inteligentes, e que no máximo dois são imbecis façam parte, veremos que ambos se sentirão atraídos um pelo outro e se sentirão muito felizes por terem encontrado pelo menos uma pessoa, para ele, razoável.






Schopenhauer



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