Ter o dom da simpatia. É das coisas que mais se invejam. Tem, como tudo, a
sua técnica, mas os efeitos são sempre problemáticos. Há o sujeito amável,
como o distante, o inteligente como o mediano, o modesto ou o vaidoso, o
convincente como o retraído, o irônico ou o sério e assim por diante, com
todas as qualidades que se quiserem e o seu contrário. Num caso e noutro
pode-se ser «simpático» ou «antipático», captarmos os favores dos outros ou
a sua repulsa. Não é fácil determinar o que realmente decide de uma adesão.
E se fosse simplesmente o ter-se «personalidade»? O assumir-se verticalmente
aquilo que se é? Isso ao menos imporia uma deferência ou «respeito».
Lembra-se uma frase de um antigo tragediógrafo latino (Ácio) - "que nos
odeiem desde que nos temam." Não é evidentemente o caso aqui. Mas é qualquer
coisa de parecido: que se seja o que se for, desde que se assuma isso em
responsabilidade. O resto são apenas formas de «simpatia», ou seja, do
«sentir-se com». E de todas elas, a base delas - ou seja, a admiração.
Porque se não tem simpatia se não houver seja o que for de admiração: tem-se
apenas tolerância ou piedade.
Vergílio Ferreira
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