O que se chama de opinião geral é, a bem da verdade, a opinião de duas ou três pessoas; e disto nos convenceríamos se pudéssemos testemunhar como se forma tal opinião universalmente válida. Acharíamos que forma duas ou três pessoas a supor ou apresentar e a afirmar num primeiro momento, e que alguém teve a bondade de julgar que elas teriam verificado realmente tais colocações, o preconceito de que estes seriam suficientemente capazes induziu, em principio, alguns a aceitar a mesma opinião; nestes, por sua vez, acreditam muitas outras, aos quais a própria indolência aconselhou melhor acreditar logo do que fazer controles trabalhosos. Desse modo, dia após dias cresceu o número de adeptos indolentes e crédulos, uma vez que a opinião já conta com boa quantidade de vozes do seu lado, os que seguiram e atribuíam ao fato deque ela só podia ter conquistado tais votos graças à consistência dos seus fundamentos. Os que ainda restaram foram constrangidos a concordar com o que já era considerado válido por todos, a fim de não serem considerados cabeças irrequietas que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, nem garotos intrometidos que querem ser mais inteligentes do que todos. A essa altura o consenso tornou-se obrigação. Daí, os poucos que têm capacidade julgar precisam calar, e os que podem falar são aqueles incapazes de ter opinião e julgamento próprios, são o mero eco da opinião alheia. Muito poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões: o que lhe resta a não ser, em vez de criá-las, aceitá-las prontas de outros. Uma vez que assim sucede, quanto poderia valer a voz de milhões de pessoas? Tanto quanto um fato histórico que se encontra em historiadores, mas que depois se comprova ter sido transcrita por todos, um após outro, motivo pelo qual, no fim das contas, tudo reflui ao depoimento de um único homem.
Pierre Bayle
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário