sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
Verdade
Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso
e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a
qualidade.
Confúcio
*
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
Stephen Kotkin: Stalin, Putin, and the Nature of Power | Artificial Inte...
Stephen Kotkin: Stalin, Putin, and the Nature of Power | Artificial Inte...
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
Silêncio
Aprendi o
silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os
maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.
Khalil
Gibran
*
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
Roger Scruton
MARIO VARGAS LLOSA
Às vezes, Roger Scruton defendia o indefensável, mas sem
traços de insinceridade ou arrogância
Sir Roger Scruton, que acaba de morrer liquidado por um
câncer que enfrentou com firmeza, nasceu em 1944 e se tornou um conservador,
segundo confessou, durante os distúrbios de rua de maio de 1968 em Paris,
quando viu garotões ricos – grandes protagonistas daquela caricatura de
revolução – apedrejando policiais, erguendo barricadas na região do Quartier
Latin e proclamando aos quatro ventos: “Queremos o impossível!”
Foi uma das pessoas mais cultas que conheci. Podia falar de
música, literatura, arqueologia, vinho, filosofia, Grécia, Roma, Bíblia e mil
assuntos mais como um especialista, embora não fosse especialista em nada,
pois, na verdade, era um humanista no estilo clássico que defendia em panfletos
– deliciosos de se ler – um mundo absolutamente irreal que provavelmente nunca
existiu, salvo em sua imaginação e nos ensaios de alguns poucos sonhadores como
ele.
“Você não percebe que essa Inglaterra que defende com tanto
talento não existiu nunca, a não ser em sua fantasia?”, disse a ele uma vez.
“Que os donos de castelos e cavalos puro-sangue hoje são uns novos milionários
e semianalfabetos que só falam de uísque e negócios? Que a caça à raposa, que
você promove com ardor épico, está morta e enterrada?”
Ele não me levava a sério e a seus olhos eu parecia um
subdesenvolvido, mas me ouvia com resignação. E dissimulava sua impaciência,
porque era um homem muito bem educado, sobretudo quando diante dele eu me
atrevia a defender as políticas da senhora Thatcher, das quais discordava por
lhe parecerem progressistas demais.
Era odiado universalmente pelos intelectuais de sua geração,
o que não deixava de engrandecê-lo, pois, apesar de ser um dinamitador cultural
que acertava sempre no alvo, não necessitava da adulação burguesa. Com sua juba
ruiva, que o tempo foi embranquecendo, e seu modo de vestir descuidadamente
aristocrático, estava sempre lendo e escrevendo sobre temas da atualidade.
Entre um livro e outro, achava tempo para montar cavalos altivos e matar
algumas raposas.
Roger Scruton
Não tinha paciência para escrever aqueles tratados profundos
que levam anos, como seu distante mestre Edmund Burke, grande fustigador da
Revolução Francesa, porque vivia e atuava no presente: isso era o que o
apaixonava. Sobre as ocorrências cotidianas, opinava sem dar trégua, com imensa
sabedoria, e fazia citações prodigiosas e argumentos com frequência tão
reacionários que aterrorizavam os poucos conservadores que ainda existem (até
mesmo na Inglaterra). Recebeu o título de “sir” da coroa britânica em 2016, o
que sem dúvida o envaideceu.
Fui assinante da revista que ele dirigia, The Salisbury
Review, durante alguns meses, até parar ao descobrir que só lia os editoriais,
sempre esplêndidos, ainda que totalmente incompatíveis com a realidade política
e social de nossos dias e, provavelmente, com a de sempre.
Ninguém como Roger Scruton para ilustrar aquela grande
distância que, segundo Frederick von Hayek, separa um liberal de um
conservador. Mas ele era de uma decência básica, uma indignação perfeitamente
justificada contra as grandes imposturas patenteadas pela esquerda demagógica
de nosso tempo, uma inteligência que esmiuçava com acidez os modismos
ideológicos e a estupidez política. E era, nesse sentido, um intelectual
imprescindível, principalmente tendo-se em conta que ninguém ocupará seu lugar.
Não era contra o progresso, absolutamente, com a condição de
que não se considerasse progresso o que propunham os marxistas ou o que nós, os
liberais, defendemos. Mas ninguém explicou melhor que ele, por exemplo, a
importância das óperas, mesmo as mais complexas – digamos as de um Wagner –, ou
das obras-primas literárias, ou dos grandes sistemas filosóficos, para se
entender o presente, atuar de maneira responsável e dar um sentido à vida.
E certamente nenhum jornalista encontrou maneira mais sutil
e pertinente de extrair lições morais e políticas de longo alcance analisando
um fato cotidiano, nem de defender a cultura como guia, neste mundo desordenado
em que vivemos, para entendê-lo e nos orientarmos nele.
A Inglaterra que ele defendia era um mundo de formas e
princípios imutáveis, para o qual a religião e as leis haviam trazido um
progresso que não eliminava as classes, nem as igualava, mas assegurava a todas
elas justiça e ordem. Uma sociedade na qual o privilégio implicava uma
obrigação moral de servir à comunidade e na qual a cultura – as artes, os
livros, as ideias, os rituais, as ações militares – eram o espelho da vida, o
único trajeto que justificava a ascensão social.
Esse mundo jamais existiu, salvo na fantasia de Scruton. Seu
modelo de político foi Enoch Powell, um conservador que sabia os clássicos de
cor, mas, aterrorizado com o que acreditava ser uma invasão das ilhas
britânicas por terceiro-mundistas, profetizou um banho de sangue se a
Grã-Bretanha não pusesse um drástico fim à imigração. Nunca percebeu que, por
trás dos elegantes discursos de Powell, bufava o racismo. E que todas as
reformas que Thatcher levava a cabo, com enorme coragem, visavam a tornar
acessível a todos a verdadeira liberdade.
Era muito difícil não sentir uma enorme simpatia por ele,
ainda que, como era meu caso, discordando do essencial de suas ideias
conservadoras. Porque havia em seus posicionamentos uma honestidade teimosa,
algo muito diferente do comportamento dos políticos da atualidade, que só
defendem aquilo em que acreditam por mera conveniência e oportunismo, e
universalizaram essa horrenda linguagem política contemporânea, feita de
clichês e estereótipos, na qual palavras vazias substituíram ideias e valem
para tudo e todos, de modo a justificar os apetites, os grandes e pequenos
pecados de funcionários, dirigentes e ditadores de regras.
Ninguém pode duvidar de que Roger Scruton usasse a linguagem
de outro modo, para dizer o que verdadeiramente pensava, ainda que fosse algo
insólito ou irreverente, a começar por seus adversários. O vocabulário político
de nosso tempo está cheio de lugares-comuns e talvez esse abismo, que percebemos
entre o que dizem os discursos dos profissionais da política e a realidade da
vida política, seja tão grande que a confusão tomou conta do mundo, tanto nos
países desenvolvidos como nos em desenvolvimento.
Em quem acreditar, se o que ouvimos por toda parte são
geralmente mentiras, obviedades ou flagrantes disparates nos quais não crê nem
mesmo quem está falando? Neste mundo degradado pela falsidade e pela burrice,
Scruton era um contraste formidável. Às vezes, defendia o indefensável, mas sem
traços de insinceridade ou arrogância – apenas convicções graníticas e uma
elegância risonha na maneira de falar. É nesse sentido que vamos sentir sua
falta. A partida de Scruton deixa em volta de nós um pavoroso vazio. /
(TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ)
MARIO VARGAS LLOSA É PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
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