quinta-feira, 5 de março de 2009

PEQUENA HISTÓRIA DO MILHO HÍBRIDO

Pedro Sisnando Leite*

Apesar de a tecnologia agrícola ter mudado bastante nas últimas décadas, sobreviveram no Nordeste do Brasil alguns mitos quanto a viabilidade produtiva do semi-árido. Uma das pressuposições bem difundidas era de que o milho só teria chance no Ceará em regime de irrigação. Nos bancos oficiais, isto assumiu a forma de dogma, mesmo em anos recentes.

Enquanto prevalecia essa mentalidade teórica aqui, nos Estados Unidos e outros países da Europa, o desenvolvimento da cultura do milho híbrido ingressou na história como a mais fantástica revolução do aumento de produção desse cereal. O milho tornou-se, em tais paises, uma fonte de um alimento básico em diversas formas para as populações humanas e ração animal estratégica.

É impressionante o que se pode ver no sul da França, nas regiões de Languedoc-Roussilon, e em Provence. São cultivados nessas terras mais de 3 milhões de hectares desse alimento. Atualmente a produção de milho na América Latina é de mais de 300 milhões de toneladas, representando 63% de todos os cereais. Para granjear a posição de maior produtor mundial desse produto, os Estados Unidos começaram a introduzir novas linhagens híbridas, em 1933. Dez anos depois, cerca de 20% da área cultivada de milho nesse país já era de milho híbrido. No início da década de 50, passou para 100% da área plantada com esse grão. O mesmo correu na Europa, com defasagem de alguns anos.

Em julho de 1997 (A Luta pelo Desenvolvimento Regional e Rural no Mundo, Sisnando, BNB, 2006), em visita às regiões produtoras de milho de sequeiro, no Delta do Mississipi (USA), os extensionistas e os produtores quase não acreditaram que no Ceará não plantávamos essas linhagens de híbridos. Provaram-me com estudos e relatos pessoais que o milho híbrido proporciona aumentos fantásticos de rendimentos. Ele cresce de modo uniforme, tem hastes fortes e resistem à secas, doenças e insetos. Explicaram-me que na prática, usando sementes de alto poder genético em produtividade, mesmo com perdas substanciais por causa de veranicos, o resultados final é bem melhor do que com cultivo de variedades tradicionais de baixo rendimento.

Com base na observação dessas experiências, e na literatura mundial sobre o assunto, a então Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ceará (1998) deu início a um programa pioneiro no Nordeste de modernização na produção de milho híbrido. Participaram dessa iniciativa a Associação Cearense de Avicultura e a Federação da Agricultura do Ceará (FAEC). A assistência técnica agronômica foi proporcionada pela EMBRAPA MILHO de Sete Lagoas (MG).

Em poucos anos, a produção de milho do Ceará tornou-se um exemplo de sucesso, levando o Estado ao segundo maior produtor de milho do Nordeste, somente ultrapassado pelo Estado da Bahia. Em 2002, com uma produção de 629 mil toneladas, o Ceará produziu quase duas vezes o que obteve o Maranhão, ou muito mais do que a soma de toda a produção do Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Poucas pessoas sabem disso! O mais impressionante, no entanto, foi o aumento da produtividade por hectare nos áreas onde ocorreu a substituição das variedades tradicionais por linhagens híbridas. Na região do Cariri, o salto foi de 500 kg/ha para 5.000. Em solenidade em Porteiras, em 10.07.1999, A Secretaria de Desenvolvimento Rural foi homenageada com a outorga de placa comemorativa com os seguintes dizeres: “Pela sensibilidade, visão, pioneirismo e espírito público, o reconhecimento da Monsanto, Braskalb e de todos aqueles integrantes no processo de melhoria da agricultura no Estado do Ceará”.

Esta homenagem deve ser estendida também à Associação de Produtores de Sementes do Ceará. De fato, a partir do ano 2.000 passaram a ser produtores de sementes de milho híbrido de alta qualidade para o Programa Hora de Plantar, da Secretaria de Desenvolvimento Rural. Mas quem realmente deve ser mais homenageado são os produtos de Santana do Cariri. Em concurso nacional, os produtores de milho híbrido desse município conseguiram ser classificados, em anos seguidos, como detentores da maior produtividade de milho do Brasil, em sistema de sequeiro, com cerca de 10 mil quilos por hectare.

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* Pedro Sisnando Leite é professor titular aposentado da UFC e foi Secretário de Desenvolvimento Rural do Ceará (1995-2002). Atualmente é Vice-Presidente do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico).

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