quinta-feira, 19 de março de 2009

Refexões sobre agricultura do Ceará

De acordo com as informações levantadas no site e nos anuários do IBGE e no site da FAO, chegamos às seguintes conclusões:

PIB – Produto Interno Bruto - período 1985-2006 –

O Produto Interno Bruto do Ceará cresceu 102% enquanto do Nordeste cresceu 78% e o do Brasil 74%, ou seja, o Ceará cresceu 16% a mais que o Brasil e 13,5% a mais que o Nordeste.

Renda Agrícola – período 1985-2006

Inversamente proporcional ao desempenho do PIB total, a renda agrícola do Ceará registrou um expansão de apenas 22%, contra 78% do Nordeste e 107% do Brasil.

Valor Bruto da Produção (produtos de origem animal) – período 1990-2007

O valor bruto da produção de produtos de origem animal (leite, ovos de galinha e de codorna, mel de abelha e lã) registrou uma queda de 22% para o Brasil, contra 32% para o Nordeste e 35% para o Ceará.

Valor Bruto da Produção de lavouras temporárias e permanentes – período 1990-2007

O Brasil registrou um acréscimo de 1% contra queda de 20% para o Nordeste e 18% para o Ceará.

Valor de produção de grãos – período 1990-2007

O Brasil teve um acréscimo de 19%, o Nordeste de 10% e o Ceará uma perda de 2%. A renda diminui apesar do crescimento da produção física. causa: tendência histórica de redução dos preços médios das commodities, notadamente de grãos, no mercado internacional. resultado dos avanços tecnológicos de aumento na produtividade agrícola e da produtividade da mão de obra por causa da mecanização na produção agrícola

Produtividade da Bacia Leiteira – período 1990-2007

O Brasil cresceu 58% (produtividade 1215 litros/ano por vaca ordenhada), o Nordeste cresceu 41% (produtividade 763 litros por vaca ordenhada) e o Ceará cresceu 27% (produtividade de 803 litros por vaca ordenhada).

Produção de Ovos de Galinha – período 1990-2007

O Brasil cresceu 32% (2.890.882 mil dúzias), o Nordeste 16% (463.122 mil dúzias) e o Ceará, registrou uma queda de 16% (era 121.296 para 102.262 mil dúzias) por causa do incremento da produção de Piauí, antigamente dependente da produção de frangos e ovos do Ceará.


Valor Bruto da Produção de Frutas e Grãos – período 1970-2008 – Ceará

O VBP médio de frutas em relação a grãos, que era de 42% no qüinqüênio 1970-74 passou para 128% no período 2005-2008, ou seja, enquanto frutas, registrou uma pequena queda de 9% passando de 796 milhões para 726 milhões, o VBP de grãos acusou uma queda de 70%, ou seja, saiu de R$1,9 bilhão para R$ 569 milhões. Comparando-se os períodos 1970-1974 e 2005-2008, a preços constantes de 2008, deflacionado pelo IGP-DI da FGV.

Produção de grãos do Ceará – período 1947-2008

A safra de grãos de 2008, que atingiu a 2ª maior produção do Estado (1.129 mil toneladas), contra 1.145 mil toneladas em 2006 (até hoje a maior safra do Ceará), no tocante ao valor bruto da produção ficou na 36ª posição no período estudado.

Produção de castanha de caju – período 1970-2007

O rendimento médio (kg/ha) da castanha de caju no Ceará registrou uma queda de 58% no período, comparando-se de 1970-74 e 2005-2007, enquanto o Brasil caiu 31% e o mundo cresceu 50%, ou melhor, a Índia acusou um acréscimo de 69%, a Nigéria de 215% e o Vietnam de 287%. Esses três países respondem por 70% da produção de castanha do mundo. O preço médio da castanha de caju para o produtor no Ceará fica em torno de US$400, enquanto a média mundial é de US$500. Comparando-se a relação de troca entre castanha e amêndoa paga no Estado do Ceará, o produtor teve um prejuízo de 74% no preço de equivalência, dado que o preço da castanha passou de US$396 no período 1970-1974 para US$406 no período 2005-2007, já em relação a amêndoa nos citados períodos o preço passou de US$1.433 para US$ 4.406, ou seja, o agricultor que recebia 28% do valor exportado, hoje recebe apenas 9%.

Produção de Biodiesel


Segundo Júnior Ruiz Garcia em sua dissertação de mestrado com o titulo: O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel Brasileiro e a Agricultura Familiar na região Nordeste-PNPB, os resultados alcançados apontam para um cenário pessimista quanto à inserção dos agricultores familiares nordestinos no agronegócio do biodiesel, no que se refere à competitividade econômica da cultura da mamona como matéria prima (apesar dos subsídios, o preço de venda pelo produtor (R$1,00) mal cobre as despesas de custeio de produção).
A produção necessária para atender à capacidade autorizada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para produção de mamona em baga é de 984 mil toneladas. A produção obtida em torno de 8 mil toneladas de mamona no Ceará, em 2008, representa apenas 0,9% da produção programada em ação de incentivo à produção no Nordeste.
De acordo com Júnior, e com base no rendimento industrial em óleo de 47% para a baga de mamona, 18% para grão de soja, 25% para fruto de dendê, a produtividade agrícola e industrial média seria, respectivamente de 665 kg/ha de baga e 312 litros de óleo/ha para mamona, contra 2.400 kg/ha de grão e 412 litros de óleo/ha para soja e 3.000 kg/ha de fruto e 750 litros de óleo/ha para dendê (palm fruit e palm oil). O autor do trabalho concluiu que o custo de produção de cada litro de biodiesel a partir da soja variou de R$ 0,897 a R$ 1,067, o do dendê variou de R$ 1,262 a R$ 1,444 e o da mamona de R$ 2,138 a R$ 2,348. Ademais, vale registrar que estudos da CEPEA-ESALQ mostram que o custo de produção de biodiesel de algodão varia de R$ 0,71 a R$ 0,96 por litro.
Os números médios do período 2000-06 mostram que o óleo de mamona no mercado internacional é 187% mais caro do que o óleo de soja e 203% mais do que o óleo de dendê, portanto podemos verificar que é mais interessante exportar 1,00 kg de óleo de mamona e comprar 2,22 kg de óleo de dendê para produção de biodiesel.
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No conceito de beneficio/custo, ou se preferir de valor adicionado da produção, até o presente momento as inversões de capital na citada cultura representa uma política de desagregação de valor de acordo Buainain, ou seja, “Estamos inventando uma nova política: o mundo inteiro busca agregar valor, e nós estamos investindo na desagregação de valor, pois é isto que acontece com a utilização da mamona para biodiesel”.

O que o governo do Estado pretende fazer para que o crescimento da renda agrícola cearense supere os valores dos anos 70 e acompanhe o ritmo de expansão da agricultura nordestina e brasileira?


Demartone Coelho Botelho
Economista e representante da UFC no GCEA/IBGE

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