quarta-feira, 4 de março de 2009

Saudade

Pedro J. Bondaczuk

Saudade profunda, pungente,

de ingênuas eras distantes.

O Tempo está tão diferente!

Não tem os encantos de antes.

É severa minha agonia,

meu frenético anseio

pela redenção do belo,

pela inocência perdida,

pela pureza, imaculada,

de um mundo, outrora virgem.

Reconstruo (só na memória),

momentos inolvidáveis,

em oníricos cenários,

com personagens ideais.

E a tristeza, tamanduá

bandeira, que me enlaça,

e oprime as costelas,

dói, por sabê-los sombras,

espectros, fantasmas,

desejos, quimeras,

passado, brumas, saudade,

decrepitude... e nada mais...

Anseio por outro mundo,

que já foi, mas não é mais,

sem este cheiro de morte,

sem esta adaga de sangue

que paira sinistra no ar

como espada de Damocles,

feroz território da ira.

Uma terra sem malícia,

sem violência e sem vício,

sem as fraquezas dos fortes,

sem a hipocrisia dos fracos.

Saudade profunda, pungente,

daquele mundo radioso,

meu paraíso existencial,

onde a beleza era um gozo,

o Amor, absoluto, real,

a esperança, estandarte

e a bondade, mais do que ideal!

Angustiado, abatido,

nesta negra noite fria,

compartilho da agonia

das Musas, da Poesia,

que, pouco a pouco,

golpe a golpe,

no medíocre dia a dia,

lentamente desertam...

E quando as Musas partirem,

lá para as bandas do Sul,

quando as trevas vadias

expulsarem toda a luz,

quando o último esteta

da beleza desertar,

serei retalho, esperança,

não mais do que vaga

e apagada lembrança

do Poeta de Alma Azul.

*

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