quarta-feira, 3 de junho de 2009

Perda da safra

Diário do Nordeste

03/03/2009

PRODUÇÃO DE GRÃOS DO CE
Perda financeira da safra atinge R$ 105,6 mi

Em apenas um mês, as perdas financeiras da safra de grãos do Estado aumentaram 1.722%, passando de R$ 5,8 milhões, em abril, para R$ 105,696 milhões, em maio último. O número é calculado com base nas informações do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), elaborado sob a coordenação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O excesso de chuvas é apontado como principal responsável pela queda na produção cearense de grãos e, como conseqüência, do prejuízo causado aos agricultores.

Segundo o economista Demartone Botelho Coelho, representante da Universidade Federal do Ceará (UFC) no Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA) — que elabora o LSPA —, o maior problema não é a perda monetária para o trabalhador e sim o comprometimento da segurança alimentar no Estado. “A gente tem um sentimento de que o rendimento da produção vai baixar ainda mais. Acontecendo isto, o valor bruto (VBP) cai e os preços de alguns gêneros disparam, como é o caso do feijão de corda”, explica ele.

Feijão, milho, arroz e algodão lideram o ranking de prejuízos nas lavouras, com R$ 163,167 milhões, R$ 101 milhões, R$ 4,114 milhões e R$ 1,675 milhão, respectivamente. “O que pega mais é o milho, que despencou e puxou o VBP. O cereal representa mais 60% da produção cearense”, comenta Demartone Botelho.

Ele frisa, entretanto, que no caso do milho, não deve haver escalada de preços, pois o Estado acaba importando o produto para suprir a demanda interna. Também apresentaram perdas financeiras a fava (R$ 242 mil) e o sorgo (R$ (787 mil).

Em movimento contrário, apresentaram resultados positivos as lavouras de amendoim (R$ 318 mil), mamona (R$ 1,1 milhão) e girassol (R$ 786 mil). O economista ressalta, no entanto, que são culturas ainda com pouco peso relativo no total da safra de grãos do Ceará.

Impacto social

Autor do estudo “A segurança alimentar no Ceará”, em parceria com o professor José de Jesus Sousa Lemos, o economista afirma que, apesar de todo o esforço empreendido pelos governos, a produção per capita de grãos no Estado ainda é insuficiente para atender à demanda. “As evidencias encontradas no estudo permitem inferir que a continuarem os atuais padrões tecnológicos, o Ceará continuará sendo importador líquido dos alimentos para a sua população”, acrescenta.

Conforme Demartone Botelho, o recuo da produção de grãos pode trazer conseqüências para a população de baixa renda. “No Ceará, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), cerca de 1,8 milhão de pessoas ganham até R$ 400 por mês. Estas, certamente, vão ser afetadas pela escassez de produção e conseqüente alta dos alimentos”, argumenta o economista.

Estimativa de maio

A estimativa para a safra do Ceará deste ano foi projetada em 1.048.710 toneladas de grãos, em maio, uma perda de 23,29% comparando-se ao previsto inicialmente (1.367.089 t), e uma redução de 7,18% em relação ao obtido no ano passado (1.129.858 t).

Com a projeção atual, estão eliminadas as expectativas de superar a maior safra da história do Estado, que foi obtida em 2006 (1.145.558 t).

Samira de Castro
Repórter

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