segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os 80 anos da Crise Econômica de 1929

(*) José Nelson Bessa Maia
O final deste mês marca o 80º aniversário do início da Grande Depressão econômica nos EUA. Essa crise começou na terça-feira, 22 de outubro de 1929, ganhou impulso e perdurou por quase 10 anos, se espalhando pelo mundo. De fato, o crash da Bolsa de Nova Iorque marcou o início de uma década de desemprego alto (25%), pobreza crescente, prejuízos fenomenais, deflação, queda na renda, retrocesso econômico e grandes sofrimentos humanos.
Embora suas causas ainda sejam controversas, o efeito foi uma perda generalizada de confiança. As explicações incluem fatores como o excesso de endividamento das famílias e falhas de regulamentação nos mercados – que permitiram uma conduta desregrada por bancos e investidores – além do danoso protecionismo no comércio exterior, excesso de investimento, desigualdades crescentes de renda e erros crassos de política econômica, todos interagindo e se reforçando mutuamente para criar uma espiral econômica de redução nos gastos, quebra de confiança e paralisação da produção.
Na Alemanha, os efeitos da Grande Depressão foram terríveis sobre o emprego, contribuindo para levar ao poder um partido extremista, o Nazista, cujos sonhos imperiais fariam eclodir a 2ª Guerra Mundial. Já no Brasil, o impacto foi grave, causando o colapso das exportações e do financiamento externo e apressando o fim da República Velha e a eclosão da Revolução de 30.
Poucas pessoas negam, contudo, que a crise deflagrada em 2008, guarda semelhanças com da Grande Depressão: o sistema bancário também foi abalado por maus empréstimos e especulação. Em 1929, empréstimos foram feitos para especular com ações. Na crise atual, os maus empréstimos foram tomados para a compra de imóveis e aplicações em títulos lastreados em hipotecas (subprime) e derivativos. Os bancos pararam de emprestar, em 1929, para evitar mais perdas, o que debilitou ainda mais a economia. Em meados dos anos 30, mais de 5000 bancos tinham desmoronado só nos EUA. Hoje, muitos bancos também quebraram ou foram estatizados e os mercados de crédito quase paralisaram.
Mas há uma diferença que impediu a repetição da tragédia: a intervenção estatal foi imediata e em grande escala pela maior parte dos bancos centrais e dos governos do mundo. Em 1930, o Banco Central dos EUA (o Fed), aumentou os juros, drenando a liquidez do sistema, com vistas a conter a especulação. Embora ainda se debatam as causas da Grande Depressão, os movimentos do Fed são considerados uma das principais razões da economia ter caído tanto. Além disso, na época, o governo norte-americano elevou os impostos, ao invés de aumentar os gastos públicos. Ao mesmo tempo, o Congresso subiu as tarifas de importação, gerando retaliações que acabaram por fazer o comércio internacional entrar em colapso e aprofundar a recessão mundial.
Em contrapartida, os governos hoje têm sido ativos em evitar o colapso econômico, justamente porque estão preocupados com a volta da Grande Depressão. A julgar pelos sinais emitidos pelas economias avançadas e, sobretudo, dos países emergentes, como o Brasil, após um ano de recessão quase geral, a economia mundial parece estar se recuperando, o que comprova que os remédios anticíclicos de alto custo estão funcionando. Isso mostra que os tomadores de decisão aprenderam com a Grande Depressão, tendo conseguido abortar uma nova e devastadora crise de idêntica dimensão. Resta, agora, porém, realizar reformas na regulamentação financeira internacional, de modo a impedir que crises sistêmicas mundiais não se repitam. Uma tarefa à altura do novo agrupamento de 20 países desenvolvidos e emergentes: o G-20.
(*) José Nelson Bessa Maia é ex-secretário de assuntos internacionais do Governo do Ceará e doutorando em relações internacionais na Universidade de Brasília (UnB). E-mail: nbessa@unb.br.

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