sábado, 26 de dezembro de 2009

Reflexões de Final de Ano: O Sentido de Viver

Os finais de ano, no geral, têm uma atmosfera propicia para nos levar a reunir um turbilhão de pensamentos, além de nos induzir a querer ficar perto das pessoas que nos gostam e de quem nós gostamos. Mesmo o Natal tendo sido mercantilizado, ainda sobra espaço para se fazer reflexões. Entre uma garfada e outra, na hora da ceia de quem tem este privilegio, num país desigual como o nosso, fala-se de amenidades, mas também de projetos para o futuro. Esses momentos servem também para isso: dá asas aos sonhos.

Também é momento para fazer questionamentos como: Afinal por que estamos aqui neste planeta? Qual o sentido da nossa brevíssima estada por aqui? Será que viemos para cultivar personalismo, individualismo, buscar incessantemente a riqueza material? Como descobrimos com a própria trajetória que tudo por aqui é efêmero, então temos que fazer de tudo para otimizar o nosso próprio bem-estar, não importando os meios?

O individualismo, o querer ter de qualquer forma parecem induzir o ser humano a ficar com a mente embotada, o que sufoca o arejamento que viabiliza um comportamento menos individualista e mais solidário. Isso o brutaliza. Quem desenvolve com mais convicção esse tipo de comportamento, torna-se num sujeito desprovido de respeito aos direitos dos outros. Entra num vale tudo. O objetivo de conquistar projeção precisa ser alcançado de qualquer forma e em menor espaço de tempo. Para isso valores como respeito, ética, amor ao próximo submergem sob as argamassas que imaginam lhe possibilitarão os alicerces que sustentarão o salto quantitativo para o sucesso.

A sociedade ocidental moderna, a tecnologia, o bombardeio midiático atuam na mente daqueles que cultuam o individualismo de uma forma a intensificar-lhes os projetos de fortuna e de fama. A propaganda que ouvem, lêem, vêem, lhes dizem diuturnamente que precisam ultrapassar obstáculos de qualquer forma, porque o sucesso é restrito a alguns mais espertos, não necessariamente os mais competentes. Eventualmente o individuo terá conquistas, muitas delas obtidas através de avanços por atalhos nem sempre corretos. O desvio da rota mais longa, mas segura, para enveredar por caminhos aparentemente mais curtos, pode até levá-lo a atingir os objetivos. Contudo, fica-lhe para trás um rastro de asneiras (para dizer o mínimo) e de direitos de outros que foram ultrajados para que o elemento conseguisse a escada necessária para atingir os objetivos nem sempre nobres.

Óbvio que uma sociedade construída com tal alicerce não pode ser saudável. O corolário natural é a depredação de valores morais, éticos e ambientais. Muito se discute atualmente acerca das causas da degradação dos recursos naturais. Na minha modesta avaliação esta degradação tem a ver, e muito, com o comportamento individualista ou não solidário, o que vem ser a mesma coisa, de nós seres humana. Ao fustigarmos apenas os nossos interesses pessoais e ao cultivarmos o individualismo, não estaremos preocupados se um rio irá desaparecer, se uma árvore que a natureza leva décadas para tornar frondosa será derrubada em alguns minutos. Se não somos solidários entre nós, porque deveríamos sê-lo com os outros seres vivos: com os animais, por exemplo?

Este planeta é um conjunto sinérgico em que cada ser vivo, cada braço de água, cada pedaço de rocha, cada microorganismo tem funções definidas que serão desempenhadas se não houver algo que atrapalhe. Os animais e vegetais, dos mais complexos aos mais singelos fazem a sua parte e, se não atrapalharmos, mantêm a vida intacta nas devidas proporções que o planeta permite. Nós, seres humanos, com a nossa inteligência e sabedoria, mas com o nosso personalismo egocêntrico, com a vontade incessante de querer ter e não o buscar ser, estamos levando esta nave para a destruição. Destruição entendida como a incidência de fome para mais de um bilhão de terráqueos; falta de água potável e saneamento para 2,5 bilhões de irmãos; rios desaparecendo; violência nos grandes centros urbanos que torna o viver nesses locais um verdadeiro ato de sobressalto diário. Mas alguns terão conquistado fortuna e poder. Terá valido a pena?

Lemos

Professor Associado na UFC.


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