sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dia Mundial da Biodiversidade

José Lemos*

Neste sábado, 22 de maio se comemora o Dia Mundial da Biodiversidade. Trata-se de mais uma data de muita simbologia, tendo em vistas que todos os dias deveríamos estar preocupados com o futuro do nosso planeta muito massacrado por nós, seres humanos, o seu grande e principal depredador. Sim, porque na natureza, as espécies animais e vegetais em equilíbrio natural e em diversidade, não a depredam. Ao contrário, na busca das suas funções vitais de alimentação e reprodução constroem um planeta que nós humanos destruímos sem o menor remorso. E agimos assim a despeito de nos jactamos de sermos os mais inteligentes entre todos os seres vivos.
O sistema econômico prevalecente nas economias mundiais é o grande responsável pela destruição da biodiversidade, que inclui o desflorestamento, a destruição dos rios, dos mares, da fauna silvestre e aquática, do ser humano... A busca incessante pela acumulação de riquezas materiais sem qualquer escrúpulo faz do ser humano um algoz do ambiente em que todos nós vivemos.
O modo de produção intensivo no uso de energia não renovável derivada de combustíveis fósseis se constitui em importante fonte de contaminação ambiental que é agravada pela destruição da biodiversidade. Na sua disposição de aumentar os seus níveis correntes de produção, os países industrializados têm explorado ferozmente os recursos disponíveis de combustíveis fósseis, utilizando processos de produção que tem graves implicações sobre a qualidade de vida no planeta.
A obsessão em produzir mais exerce uma pressão muito grande sobre todos os recursos naturais do planeta. A idéia de que os seres humanos sempre serão capazes de encontrar alternativas tecnológicas para a substituição de fatores que estão se tornando escassos, compromete a sinergia que existe entre todos os diferentes seres do planeta (vivos ou não), na medida em que provoca desequilíbrio. Sempre haverá o perigoso argumento de que se destrói agora, mas a ciência construirá mais na frente.
Um aspecto agravante neste processo é o elevado nível de pobreza experimentado por segmentos significativos da humanidade. Os pobres são, a um só tempo, causadores e vitimas da degradação do ambiente. Na medida em que não tem acesso aos serviços essenciais, sobretudo de destino de dejetos e de lixo doméstico, serão obrigados a desfazerem-se da forma menos adequada que, seguramente não o fariam se não fosse essa a sua situação de carência. Caso sejam agricultores, se estiverem desprovidos de áreas em tamanho e qualidade adequados, utilizarão até à exaustão a que dispuserem, dela extraindo toda a biodiversidade para tentarem retirar minimamente um sustento. Assim, de nada vale para quem vive sob essas condições falar em não destruir a flora e a fauna nativa pois: “Afinal que significado pode ter a idéia de ecossistema, de estabilidade biológica, de contaminação ambiental, preservação da biodiversidade para as imensas massas cuja luta cotidiana é pela própria sobrevivência em condições precárias e absolutamente hostis? É utópico e politicamente equivocado esperar a formação de consciência ecológica sob os escombros da miséria que prevalece no Terceiro Mundo.” (Aguiar, citado na pagina 82 do nosso livro).
Caso não disponham de fontes adequadas de energia para cozinhar o seu alimento os pobres rurais irão buscar na natureza a lenha como fonte. Empresas rurais ou urbanas se não dispuserem de fontes alternativas, ou se estas forem mais dispendiosas, utilizarão a vegetação oriunda da cobertura vegetal. Assim para preservar a biodiversidade e até recuperá-la precisamos antes resolver o problema da extrema pobreza e da matriz energética. A devastação do ambiente, o desflorestamento causador do desaparecimento da fauna silvestre é causa e conseqüência da exclusão social.
As atividades agrícolas sempre avançam sobre novas áreas se não existirem impedimentos legais. Os grandes empreendimentos de monoculturas são potenciais destruidores da biodiversidade. Para evitar isso se precisa de zoneamento agroeológico que estabeleça os limites para a expansão dessas atividades. De outro modo a biodiversidade desaparecerá com todas as implicações para a humanidade.

*Professor Associado na UFC.


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