sábado, 29 de maio de 2010

Mitos e Verdades da Era Lula

José Lemos*

Desde a primeira tentativa que fizemos para eleger Lula presidente, nos idos de 1989, estávamos ancorados no discurso ético e na correta gestão da coisa pública que então norteavam o seu discurso e o do seu partido. Foram períodos de fortíssimo envolvimento com um projeto que se imaginava que deveria ser totalmente diferente de “tudo que aí está” como dizíamos na época. Quando vemos denuncias de compras de delegados petistas como as apresentadas pela Revista Veja desta semana ficamos perplexos. Pior do que a perplexidade é sermos tentados a imaginar que um partido que tem uma luta marcante de combate àqueles que sempre causaram estragos à população do estado que fizeram o mais carente do País, agora caem no seu colo por 40 dinheiros.
Quando insistíamos na eleição de um operário para dirigir o País, imaginávamos que seria possível ao menos encaminhar políticas de governo de uma forma ética e voltada para os interesses da grande maioria. Não fazia parte da estratégia de então conquistar o poder pelo poder, usar quaisquer meios para conquistar os fins. Imaginava-se que a “governabilidade” surgiria como decorrência do apoio popular e num equilíbrio entre poderes independentes, mas todos agindo de uma forma ética e republicana. Infelizmente o que vemos é uma repetição potencializada de práticas condenáveis, um vale tudo em que o Presidente submete-se à tutela de figuras execráveis sob qualquer ângulo que se as avaliem. Um Legislativo em descrédito e um poder Judiciário que é capaz de assacar um governador legítimo para colocar em seu lugar quem perdeu as eleições, e que com o poder nas mãos age utilizando os meios ilícitos que alegou para convencer juízes a lhe doarem um poder que os eleitores negaram.
As evidencias, depois de tanto tempo de governo, desmentem os mitos que se tenta criar em torno de progressos que não existiram. Senão vejamos. Nesses oito anos o crescimento do PIB brasileiro foi um dos mais medíocres no mundo. Pior que isso é observar que não houve mudanças significativas no perfil da sua distribuição continuando fortemente concentrado em estados do Sudeste e do Sul.
No que concerne à tão falada inclusão de parcelas de pobres na classe média, as evidencias que se extrai dos dados das PNAD do IBGE de 2002 (como o Brasil se encontrava entes do atual governo) e de 2008, ultimo dado disponível, não corroboram com o discurso oficial. Senão vejamos. A população que morava em domicílios sem qualquer rendimento monetário em 2002 representava 1,29% do total. Em 2008 este percentual se elevou para 1,30%. Como a população cresceu no período de 8,7%, segue-se que o saldo absoluto da população vivendo em domicilio sem renda em 2008 é muito maior do que acontecia em 2002. Ou seja, o Programa Bolsa família não alcançou essa gente ainda. A população que morava em domicílios cuja renda varia entre zero e dois salários mínimos, que em 2002 representava 32,7%, em 2008 saltou para 35,6%. Ou seja, tanto em termos relativos como em termos absolutos o contingente da população vivendo naqueles domicílios de baixissima renda se elevou de forma substancial.
O que houve de fato foi um “achatamento” da classe média no Brasil neste período, com migração das populações posicionadas nos estratos imediatamente superiores para aqueles de mais baixa renda.
Não se pode falar em progresso num País em que apenas 53% dos domicílios estão conectados à rede de esgotos, como se pode conferir através da PNAD de 2008. Em 2002 este percentual era de 47%. Portanto, contra um crescimento populacional de 8,7 % entre 2002 e 2008, a rede de esgotos expandiu-se em apenas 6% dos domicílios brasileiros naquele período, o que sinaliza para o acréscimo, em termos absolutos, da população sem esgoto no País neste período.
A estabilidade econômica que se alcançou neste período, deve-se à continuidade de uma política monetária ancorada em taxas de juros elevadas e em taxa de cambio supervalorizada. Políticas herdadas do governo anteriores tão combatidas na época, chamada de neoliberal, e que agora é colocada como trunfo, ao ponto de se querer um confronto não entre os atuais três declarados candidatos a presidente, mas entre o que está saindo agora e o que saiu em 2002. Como o brasileiro não tem ainda o nível de politização que gostaríamos, a estratégia parece que está dando certo a despeito de. existirem projetos alternativos que mereciam maior divulgação e atenção.

*Professor Associado na UFC.

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