sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dia Internacional do Meio Ambiente

José Lemos*
O Dia 5 de junho foi escolhido para fazer reflexões sobre o que andamos aprontando sobre o ambiente em que vivemos. Seria bem melhor se, em todos os dias, em cada uma das nossas ações tivéssemos preocupações com o nosso planeta. Isso, infelizmente não acontece. Ao contrário, observa-se que, de forma sistemática, o ser humano depreda os recursos naturais.
A obstinação por acumulação, que caracteriza o modo capitalista de produção e de crescimento, cria comportamentos e “necessidades” para a sociedade que, em virtude da massificação da propaganda e da voracidade de competição inerente ao próprio modelo de acumulação, induzem os mais bem posicionados na estratificação social a consumiram mais.
O consumo excessivo que requer alta tecnologia, não só cria quantidades enormes de itens inúteis, como precisa, para a sua fabricação, de gigantescos montantes de energia. Energia não renovável, que é derivada de combustíveis fósseis, que se torna escassa e mais dispendiosa. O sistema, por sua vez, sempre requer o aumento dos níveis correntes de produção. O crescimento do PIB agregado é a obstinação. Por isso os países já industrializados e aqueles menos industrializados (como o Brasil) exploram ferozmente os recursos disponíveis de combustíveis fósseis. Esses processos causam perturbações ecológicas. Algumas de alcance inimaginável. O atual desastre em poços profundos de petróleo em mares americanos dá uma idéia do potencial de catástrofe que isso tudo pode representar para todos nós. Contudo, apesar de afetar a todos, as maiores conseqüências de desastres ambientais sempre recairão sobre aqueles que estão situados nos estratos da base da pirâmide sócio-econômica. Leiam-se os pobres.
A pobreza, por sua vez é a um só tempo vitima e indutora da degradação do meio ambiente. Os pobres situados nas periferias das cidades de grandes e médios portes que não dispõem de acesso adequado para os dejetos humanos os colocam em locais inadequados como córregos, valas abertas, buracos fétidos ou mesmo sobre a superfície do solo, contaminando-o. Ao não terem acesso ao serviço de coleta de lixo, livram-se dos resíduos sólidos produzidos nos seus domicílios das formas mais inconvenientes. Afinal ninguém quer conviver com sujeira em suas proximidades.
Os pobres das áreas rurais, ao não disporem de terras em quantidade e qualidade suficientes para produzirem alimentos e gerarem excedentes que viabilizem renda monetária, utilizarão até à exaustão a pouca terra de que dispuserem. Além disso, as praticas predatórias de cultivo que ainda utilizam o fogo para fazer a limpeza das áreas corroboram com a destruição da pouca terra de que dispõem. Por outro lado fica difícil atitudes de preservação das matas ciliares de mananciais de águas superficiais quando as populações ribeirinhas não dispuserem de outros locais para fazerem os cultivos de que necessitam para sobreviver. Assim como é difícil preservar a fauna silvestre, se há fome. O uso da lenha ou do carvão vegetal se constitui numa outra forma de pressão sobre os recursos naturais. Portanto, trata-se de ação não liberada, provocada e agravada pela pobreza prevalecente. A própria pobreza se constitui numa degradação do meio ambiente. A pior de todas, pois degrada o ser humano.
Os ricos urbanos por razões totalmente diferentes degradam o ambiente, consumindo em excesso, emitindo gases poluentes nos seus transportes particulares e fábricas, provocando congestionamentos de tráfego. Os grandes empresários do setor rural degradam o ambiente ao substituírem a cobertura vegetal diversificada por monoculturas ou pastagens e ao utilizarem intensivamente agroquímicos e máquinas pesadas, geralmente utilizando recursos públicos sob a forma de créditos generosos viabilizados pelos governos de ocasião.
Por conseguinte, o Dia do Meio Ambiente que hoje comemoramos serve para refletirmos sobre o nosso comportamento diante do nosso planeta.

*Professor Associado na UFC


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