sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Fichas Limpas” Sujos e “Fichas Sujas” Limpos

José Lemos*
Como um estado promissor como o nosso pode mergulhar nas trevas do atraso econômico, social, ambiental e político? A resposta a estas perguntas não são difíceis de serem encontradas dentro da sua própria historia recente. De estado progressista na época do Brasil Colônia, ainda que a riqueza haja sido apropriada de forma distorcida, mas que deixou marcas num estilo arquitetônico que transformou São Luis num patrimônio da Humanidade, transformou-se no mais carente pelas mãos de alguns.
Pelas vias, digamos, eleitorais, por longo, tempo em todo o estado foram mantidos “currais” construídos através de uma premeditada ação que assegurava a existência um grande contingente de analfabetos, sem escolaridade, famintos, desinformados e, por tudo isso, vitimas para serem massa de manobra daqueles que queriam o poder e os cofres do estado como fonte de riqueza.
Não foi por acaso que atravessamos o milênio com a mais baixa escolaridade média entre todos os estados brasileiros, de apenas quatro (4) anos em pleno ano de 2000. Não foi por acaso que se manteve uma taxa de analfabetismo de maiores de 10 anos beirando os trinta por cento quando a humanidade rufava os tambores anunciando a chegada de um novo milênio, de uma nova era, que não chegava ao Maranhão.
Não foi por acaso que mais de um milhão de maranhenses abandonaram o estado nos anos noventa em busca de guarida em outros lugares que sequer tinham qualquer informação. Muitos pereceram de doenças contraídas em lugares remotos, insalubres ou morando em casebres construídos com materiais precários que os tornavam vulneráveis a doenças como o mal de chagas, malária dentre outras. Maranhenses que não pereceram acometidos de doenças contraídas em ambientes insalubres, morreram na luta pela terra buscando o direito de ter um local de onde pudessem extrair a comida, como aconteceu com os 13 conterrâneos que sucumbiram em 1997 no conflito de Eldorado dos Carajás. Aquela gente havia emigrado deixando para trás as famílias, as origens, o local onde enterraram os umbigos, para aventurarem-se em terras onde imaginavam que jamais poderiam ser piores do que aquele onde nasceram.
O Maranhão, um estado promissor que já foi o segundo maior produtor de arroz no Brasil, e um dos grandes produtores de alimentos do País, chegou ao final dos anos noventa como importador de alimentos até de locais antes nunca imagináveis: do estados inseridos no semiárido e com as maiores dificuldades climáticas do Nordeste. Logo o Maranhão que Celso Furtado imaginou que deveria ser o receptador do excedente populacional dessa região que era tangido pela seca, transformou-se no estado com a maior taxa de emigração nos anos noventa. Logo o Maranhão que poderia ser o celeiro produtor de alimentos e matérias primas do Nordeste, virou um estado de indigentes pela irresponsabilidade de quem o administrava em proveito próprio.
Quando em 2006 surgiu a oportunidade de construir o seu futuro, os maranhenses que haviam conseguido respirar outro tipo de oxigênio por escassos cinco anos, acreditavam que afastariam de vez o fantasma do retorno daqueles que lhes submetiam a humilhações. Foram para as urnas acreditando que o poder emana do povo, como manda a Constituição e deram, o que acreditavam ser, um basta no desmando, na irresponsabilidade, no nepotismo, no uso dos recursos públicos para o enriquecimento familiar, de amigos, de apaninguados e de bajuladores.
Dois anos depois veio o veredicto da capital Federal: Aquele preceito constitucional não vale em locais pobres. Isso é definido por Doutos. Eles é que sabem o que é bom para os pobres. De quebra conseguiram transformar um homem integro num “ficha suja” e deram atestado de bons antecedentes indevidamente. Sujaram quem tinha “ficha limpa” e limparam quem possuía “ficha suja” doando-lhes o poder que os maranhenses negaram. Conseguiram inverter posições.
Agora, quando se imaginava que o projeto “Ficha Limpa” do qual fui signatário iria apanhar quem de fato tem “ficha suja”, há a ameaça concreta dos maranhenses não terem a oportunidade de mostrar para aqueles que caçaram o seu voto, que sabem escolher o seu destino, que não precisam de tutela, mesmo de “Bem Intencionados”. O projeto atual é fazer eleição para a candidata que perdeu no voto, ganhar da única forma que poderia: Por W.O. como se diz no jargão do futebol. Tudo se resolvendo no tapetão. Temos assim a possibilidade concreta de continuar por mais 50 anos nas trevas de que nos livramos por um escasso, mas bom, período de sete anos. Pobre Maranhão!

*Professor Associado na UFC


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