sábado, 12 de março de 2011

Virtude

Um homem sem idéias faz da arte um ofício; da ciência,um comércio; da filosofia, um instrumento; da virtude, uma empresa; da caridade, uma festa; do prazer, um sensualismo. A vulgaridade transforma o amor da vida em pusilanimidade, a prudência em covardia, o orgulho em vaidade e o respeito em servilismo. Leva à ostentação, à avareza, à falsidade, à avidez, à simulação; atrás do nome medíocre assume o antepassado selvagem que conspira em seu interior, acossado pela fome de atávicos instintos e sem outras aspirações senão a saciedade. Nessa crise, enquanto a mediocridade torna-se atrevida e militante, os idealistas vivem desorbitados, esperando outro clima. Ensinam a purificar a conduta do filtro de um ideal, impõem seu respeito aos que não podem concebê-lo. No culto dos gênios, dos santos e dos heróis, têm sua arma, despertando-o, assinalando exemplos às inteligências e corações; pode diminuir a onipotência da vulgaridade, porque em toda larva existe, acaso, uma mariposa. Os homens que vivem em perfeito florescimento de virtude revelam com seus exemplos porque vida pode ser intensa e conservar-se digna, dirigir-se ao cume, sem encharcar-se em lodaçais tortuosos, encrespar-se de paixão, tempestuosamente como o oceano, sem que a vulgaridade turve as águas cristalinas da onda, sem que o brilho de suas fontes se turve opaco pelo limo.

José Ingenieros

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