terça-feira, 27 de setembro de 2011

Voz

Pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala. Simples, rápido! E quanta força! Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis,pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,esquecimento, recusas.Quantas coisas são ditas na quietude,depois de uma discussão.O perdão não vem, nem um beijo,nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável,o silêncio, a ante-sala do fim.É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir,,pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos,expõem suas queixas, jogam limpo. Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados.Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica,ouvimos um dos dois gritar:"Diz alguma coisa, mas não fica aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notícias para o desespero do outro. É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua,o silêncio é um bálsamo. Para a professora de uma creche,o silêncio é um presente. Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor,quando a relação é sólida e madura,o silêncio a dois não incomoda,pois é o silêncio da paz. O único silêncio que perturba, é aquele que fala . E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há emails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim, você entende a mensagem.



Martha Medeiros


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