segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia do Professor: Há o que comemorar?

José Lemos*
Não se conhece a história de um único país no mundo que tenha avançado sem priorizar a educação. Este é o condicionante primeiro para o desenvolvimento. Exemplos recentes de países que deram o salto qualitativo a partir da educação estão ai para todos constatarem. O Japão é o maior deles. Destroçado pela segunda guerra mundial no meado do século passado, o país emergiu com o único recurso natural que lhe restou: pessoas com olhinhos apertados. No caso, pessoinhas que precisavam de toda atenção do Estado porque delas dependeria a sua pujança no futuro. Sábia decisão!
A Coréia do Sul é outro exemplo bem sucedido de país que deslanchou um processo de desenvolvimento sem precedentes na historia recente da humanidade. Um País que tem extensão equivalente ao Estado de Pernambuco, mas que tem, pelo menos, o quíntuplo da sua população. Com apenas um terço das suas terras agricultáveis, os coreanos descobriram que estava na disseminação do conhecimento a sua única possibilidade de avançar. Lá, como no Japão, o “recurso natural” mais abundante são as pessoas de olhos amendoados. Então que tal colocar esses coreanosinhos em dedicação exclusiva as escolas? Que tal remunerar bem os seus professores. Mais ainda, por que não lhes prover do que há de melhor em termos de tecnologias didáticas como laboratórios, biblioteca, instrumentos de trabalho para que pudessem exercer bem a sua missão? Fizeram assim, e se deram bem.
Em recente trabalho acadêmico que escrevi e publiquei na Revista Econômica do Nordeste, editada trimestralmente pelo Banco do Nordeste do Brasil, demonstrei a forte relação que existe no Brasil entre o tamanho do PIB per capita dos estados e as respectivas escolaridades médias. Naquele trabalho demonstramos também o impacto expressivo que tem o acréscimo de cada ano de escolaridade sobre o incremento do PIB por pessoa.
Sabe-se que o crescimento do PIB médio não implica, necessariamente, em elevação da qualidade de vida das famílias. Contudo, este é um dos passos iniciais para que o desenvolvimento aconteça. E a elevação do PIB médio ou pessoal depende de duas variáveis importantes. A primeira é o crescimento da riqueza. Esta dependerá de investimentos em diferentes setores produtivos. Esses setores, por sua vez, dependerão da existência de força de trabalho qualificada, para poderem apresentar respostas satisfatórias. Ou seja, a educação aparecerá no numerador da equação (PIB per capita se obtém dividindo-se o PIB total, leia-se riqueza total, pelo tamanho da população). Por esta razão a educação influenciará positivamente no seu crescimento.
No denominador desta singela equação do PIB per capita, aparece o tamanho da população. Este por sua vez dependerá do grau de esclarecimento dessa população. Menos esclarecida, maior será o tamanho das famílias, e mais extensas serão as populações. O esclarecimento das populações, leia-se o seu nível de educação ou de escolaridade, definirá o tamanho do denominador da equação. Menos escolaridade, maior será o denominador e, para o mesmo PIB, menor será a sua dimensão por pessoa. Observe-se que a “variável” educação influenciará tanto o tamanho do numerador, expandindo-o se a escolaridade for elevada, como o denominador, reduzindo-o caso a escolaridade também seja elevada. Resumido, a escolaridade elevada corroborará para elevar o PIB médio.
Como acontece no Brasil? Entramos na segunda década do século vinte e com uma escolaridade média que não chega a oito (8) anos, e com uma taxa de analfabetismo que penaliza dez (10) por cento da população maior de dez (10) anos. Nas regiões Nordeste e Norte a escolaridade média não ultrapassa seis anos e meio (6,5 anos). Nessas regiões se encontram as maiores taxas de crescimento das populações no Brasil. No Nordeste e no Norte, também se observam os menores valores do PIB agregado no País.
Obvio que não pode existir educação sem professores bem remunerados e com condições adequadas de trabalho. Para que essas conquistas aconteçam, os professores, quase sempre, têm que recorrer ao recurso extremo e penoso das greves, dada à insensibilidade dos governante, que reagem quase sempre com violência.
Então o que esperar de um país em que a Educação em vez de ser vista como vetor de desenvolvimento é encarada como caso de policia?
Temos, portanto, muito pouco, ou quase nada, para comemorar neste dia 15 de outubro, que deveria ser para homenagear a nós, professores. Apesar dos governantes, em todos os níveis, cumpriremos com o nosso dever de educadores preparando as futuras gerações. Contudo, a sociedade brasileira precisa exigir dos seus governantes um mínimo de comprometimento com a educação que é fundamental para o desenvolvimento do País.

*Professor Associado na Universidade Federal do Ceará.


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