sábado, 24 de dezembro de 2011

Paciência

O que faz das pessoas serem sociáveis é a sua icapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos. Vazio interior e fastio: eis o que os impele tanto para a sociedade quanto para os lugares exóticos e viagens. Seu espírito carece de força impulsora própria para conferir movimento a si mesmo, o que faz com que procurem intensificá-la mediante o alcool. E muitos tornam-se alcoólatras justamente por isso, precisam sempre do estímulo exterior e do mais forte, ou seja, dos seus iguais. Sem ele, seu espírito decai sob o próprio peso. Cada pessoa é apenas uma pequena fração da ideia de humanidade, e assim precisa ser complementada em muito pelos outros, para constituir, em certa medida, uma existencia plena. Aquele que é uma pessoa completa expõe uma unidade expõe, não uma fração, tem o suficiente em si mesmo. Nesse sentido, pode-se comparar a sociedade ordinária com a música russa executada por trompas, onde cada uma emite uma nota só, e apenas por meio de sua coincidência exata é que surge a melodia. De fato, a sensibilidade e o espírito da maior parte das pessoas são tão monótonos quanto aquelas trompas de uma nota só. Muitos dão a aparência de ter sido sempre um único e mesmo pensamento, como se incapazes de produzir qualquer outro. Isso explica não apenas por que tais pessoas são tão tediosas e por que preferem andar em bandos. A monotonia de seu próprio ser os torna insuportáveis para si mesmas. Apenas juntas e pela união é que constituem algo, como aqueles tocadores de trompa. A pessoa inteligente, ao contrário, é comparável a uma virtuose que executa sozinho o seu concerto, ou ao piano. Assim como este é para si mesmo uma pequena orquestra, a pessoa inteligente é um pequeno mundo e, o que os outros conseguem ser apenas por intermédio de uma atividade de conjunto, ela o expõe na unidade de uma consciência única.. Como o piano, não é parte de uma sinfonia, mas está talhado para o solo e a solidão. Se deve atuar em conjunto, então só o pode fazer como voz principal com acompanhamento, como o piano,, ou dando o tom como esse instrumento. Quem, todavia, ama estar entre outras pessoas, pode abstrair-se dessa comparação a seguinte regra: o que falta em qualidade às pessoas do seu convívio tem de ser suprido, em certa medida, pela quantidade. O convívio com um único homem inteligente é suficiente recompensador, mas, se o que se encontra são apenas tipos ordinários, então faz bem ter uma profusão deles, para que a variedade e a atuação em conjunto produzam algum efeito, por analogia com a mecionada música de trompas: E QUE O CÉU LHE CONCEDA PACIÊNCIA!.



Schopenhauer


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