quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sonhar

Sonhar e acreditar no sonho são o sal da vida. Não há nada de errado em apostar alto na vida privada ou na vida pública, correr risco no amor, na política, nos negócios, arte ou no que for. O comportamento exploratório, ousar o novo, tentar o não tentado, pensar o impossivel, é a fonte de toda mudança, de todo avanço e da ambição individual e coletiva de viver melhor. Viver na retranca, sem esperança e sem aventura, não leva ao desastre, verdade, mas também não leva a nada. Pior, leva ao nada da resignação amarga e acomodada que é a morte em vida, o niilismo entediado, inerte e absurdo do cadáver adiado que procria. O problema não está em sonhar e apostar, mas na qualidade do sonho e a natureza da aposta. O melhor dos mundos seria combinar o ideal prático da coragem das nossas convicções, quando se trata de agir, com o ideal epistêmico da máxima frieza e distanciamento para atacar e rever nossas convicções, quando se trata de pensar. É o que propõe Goethe: "Existe uma reflexão entusiástica que é de maior valor, contanto que o homem não se deixe arrebatar por ela." A dificuldade reside em viver à altura dessa exigência simultânea de entrega e autocontrole. Reconhecer, de um lado, que nada de grandioso se faz neste mundo sem entusiasmo e paixão, mas nem por isso aceitar, de outro, que a força da paixão e o ardor do entusiasmo de tornem critérios de verdade em nossa compreensão do mundo. Na vida pública, o duplo perigo é retratado pelo poeta irlandês Yeats: Os melhores carecem de de qualquer convicção, enquanto os piores estão repletos de apaixonada intensidade". Para o indivíduo, o risco é análogo. As paixões medidas e analisadaa esmorecem e definham, enquanto as paixões desmedidas e desgovernadas arrebatam e atropelam.
(...) O princípio da complementaridade na física quântica reza que " uma grande verdade é uma afirmação cujo contrário é uma grande verdade". O poeta Holderlin afirma que que : "O homem é um deus quando sonha, mendigo quando reflete." Sob a ótica do auo-engano, contudo, o contrário dessa grande verdade não é menos verdadeiro: o homem é um mendigo quando sonha. mas compartilha algo do divino quando reflete.



E. Giannetti


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