Discursos ou ideias espirituosas só têm sentido perante uma sociedade igualmente rica de espírito. Na sociedade vulgar são francamente odiados; para serem admirados nela, precisam de ser totalmente triviais e limitados. Nessa sociedade, por conseguinte, temos de renunciar, com difícil auto-abnegação, a 3/4 de nós mesmos, a fim de nos parecermos com os demais. Em compensação, temos obviamente os outros, mas quanto mais uma pessoa possui valor próprio, tanto mais achará que o ganho não cobre a perda e que o negócio redunda em prejuízo. Porque as pessoas, via de regra, são insolventes, isto é, nada há no seu convívio que indenize o tédio, as fadigas e incômodos que provocam, nem a auto-abnegação que impõem. Por isso, quase toda a sociedade é constituída de tal modo, que quem a troca pela solidão faz um bom negócio.
Ajunte-se a isso o fato de que a sociedade, a fim de substituir a autêntica superioridade, isto é, a do espírito, que ela não suporta e que é também difícil de encontrar, adotou sem mais nem menos uma superioridade falsa, convencional, baseada em normas arbitrárias, propagando-se pela tradição entre as classes elevadas e alterando-se como se alteram as palavras de ordem. É o chamado bom-tom, fashionableness. Quando, entretanto, tal superioridade entra em colisão com a genuína, a primeira caba por mostrar a sua fraqueza.
Arthur Schopenhauer
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