quinta-feira, 7 de março de 2013

Verdade



Se eu manejasse um arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendar uma veste, ninguém me daria atenção, poucos me observariam, raras pessoas me censurariam e eu facilmente poderia agradar a todos.. Mas, por ser delineador do campo da natureza, preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à atividade do espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os absorvidos me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram. E não é um só, não são poucos, são muitos, são quase todos. Se quiserdes saber porque isto acontece, digo-vos que o motivo é que tudo me desagrada, detesto o vulgo, a multidão não me contenta. Somente uma coisa me fascina: aquela em virtude da qual me sinto livre de sujeição, contente no sofrimento, rico na indigência e vivo na morte. Aquela em virtude da qual não invejo os que são servos na liberdade, sofrem no prazer, são pobres nas riquezas e mortos em vida, porque trazem no próprio corpo os grilhões que os prendem, no espírito o inferno que os oprime, na alma o erro que o debilita, na mente o letargo que o mata. Não há, por isso, magnanimidade que os liberte nem longanimidade que os eleve, nem esplendor que abrilhante, nem ciência que os avive.




Padre Giordano Bruno



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