quarta-feira, 24 de abril de 2013

Opinião

O fiasco grotesco das experiências de doutrinação ideológica e “regeneração moral” do século XX é um testemunho eloquente da precariedade de toda tentativa de se forçar a fé, o “bem comum” ou o que quer que seja na cidadela do acreditar. É provável que a violência inaudita da “revolução cultural” chinesa e a meticulosidade do policiamento político na ex-União Soviética – até o uso de simples máquinas de fotocópia pelo cidadão comum era submetido a estreita vigilância – tenham contribuído não para quebrar, como pretendiam os poderosos, mas para exacerbar a resistência surda e cínica do povo. Quem contra a vontade é “convencido”, cala e obedece mas não se dá por vencido. O resultado é que décadas de doutrinação cerrada e absoluto controle sobre os meios de comunicação de massa não fizeram de russos e chineses “bons marxistas” – cidadãos disciplinados, desalienados; amantes do trabalho e servos do “bem comum”. O que parece prevalecer nesses casos –e uma espécie delei de Newton das paixões sufocadas: a toda ação repressora corresponde uma reação igual e contrária. O retorno do reprimido, quando as comportas se rompem, é um espetáculo constrangedor. Nada disso, contudo, surpreendia o imperador estóico Marco Aurélio. Instado a implantar por força de autoridade política a polis ideal platônica na Roma do século II dC, ele refletiu: “Nunca alimente a esperança de tornar realidade a República de Platão..Quem pode mudar as opiniões dos homens?E, sem que mudem os seus sentimentos, o que se pode faze senão transformá-los em escravos relutantes e hipócritas?”


Eduardo Giannett



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