segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Tédio

As pessoas comuns estão preocupadas apenas em passar o tempo;quem possui algum talento, apenas em empregar o tempo. A razão pela qual as cabeças limitadas são tão propensas ao tédio provém do fato de que seu intelecto nada mais é senão o intermediário dos motivos para a vontade. Se não existirem motivos para serem levados em conta, então a vontade repousa e o intelecto folga;pois este, tão pouco quanto aquela, não entra em atividade por si próprio. O resultado é uma terrível estagnação de todas as forças no homem inteiro – o tédio. Para evitá-lo, propõem-se pequenos motivos para a vontade, mera,ente transitórios e tomados a esmo, com o fim de estimulá-la e assim também pôr o intelecto em atividade. Por conseguinte, em relação aos reais e naturais, esses motivos são como papel-moeda comparado à prata, porque seu valor é tomado de modo arbitrário. Tais motivos são os jogos, de cartas e outros, inventados para o fim já mencionado. À sua falta, o homem limitado vale-se de bater e tamborilar em tudo que lhe cair à mão. Até o charuto lhe é sucedâneo bem-vindo dos pensamentos. Por isso, em todos os países, o jogo de cartas tornou-se ocupação principal de todo círculo social; ele é o critério do seu valor e a bancarrota declarada de todos os pensamentos. Como, de fato, essas pessoas não têm pensamentos para trocar, trocam cartas e procuram tirar florins uns dos outros. Ó raça lastimável !





Schopenhauer




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