segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Conhecimento


Não importa o que seja:pergunte a si mesmo se você conhece algo e você terá sérias razões para começar a duvidar. Antes de tudo, cabe indagar: o que é conhecer? Depende, é claro, do nosso grau de exigência. Se você passar, por exemplo, uma tarde visitando uma cidade histórica, poderá voltar e dizer que a conhece. Se passar vários meses nessa mesma cidade,perceberá que as mudanças do clima, as alterações do seu próprio ânimo e as pequenas surpresas de cada dia têm o dom de revelar ângulos e facetas até então desconhecidos. Mas se você passar alguns anos na tal cidade, estudando o seu passado, pesquisando a evolução de seus prédios e de seu traçado, e buscando entender o significado histórico do que se passou nela, você ficará assombrado com a vastidão do que falta saber. Com o avanço do conhecimento, alarga-se o desconhecido. “Com o saber cresce a dúvida”. Tautologias e truismos à parte, nenhum saber é final. Qualquer que seja o objeto do conhecimento – uma floresta ou uma indústria, um texto clássico ou um neurotransmissor- uma coisa é certa: por mais que se conheça, sempre será possível conhecer mais. E como o que falta saber, por definição, ninguém sabe o que é, o desconhecido pode ter uma propriedade singular. Nem sempre o que era desconhecido, mas veio a tornar-se conhecido, restringe-se à descoberta das coisas que são meramente complementares ao estoque de saber preexistente. A tensão entre o antigo e o novo – entre o estoque e o fluxo na busca do conhecimento – gera surpresas e anomalias. O novo conhecimento gerado pode alterar radicalmente o nosso entendimento acerca da natureza do saber preexistente e do seu valor de verdade. O conhecer modifica o conhecido. O desconhecido é uma bomba-relógio tiquetaqueando e pronta para implodir (ou não) o edifício do saber estabelecido – uma ameaça pulsando em tudo o que se mantém de pé. Certeza absoluta, portanto não há.




Eduardo Giannetti



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