segunda-feira, 24 de julho de 2017

Amar

É possível amar para existir. Mas nunca amar pode ser necessário, amar nunca é necessidade, amar é liberdade, é decidir-se por alguém que é um quem para nós, amar é perscrutar a face da eternidade em cada tu que se ama. Amar é simplesmente tudo doar, amar é inteiramente a ontologia da pessoa humana, porque é seu fim último enquanto voltar-se para fora, e nunca para si mesmo. Amar é o antagonismo da paixão. E amar não é cura, não é salvação, amar simplesmente é o que é quando se é possível, mas nunca se pode dizer que amar seja uma supressão de desejos (inconscientes?) tal que haja cura, e não haja doenças. Adoecer é estar integrado com a paixão, que é o antagonismo do amor. Adoecer não tem cura, no entanto, porque estar apaixonado é inteiramente humano, e não tem como a pessoa se desvincular de si e deixar de se apaixonar, ela não pode deixar de ser humana (e, portanto, não há cura de si): mas ela pode amar (e, portanto, ser livre na sua possibilidade de abrir-se ao mundo). Isso basta. “L'amour c'est tout donner”.


Sofrimento, perdição e amor - Demartone Oliveira Botelho

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