quarta-feira, 28 de abril de 2010

O morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

Vou mandar levantar outra parede...
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minha alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é esse morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!


Augusto dos Anjos

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