segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sociedade

A chamada boa sociedade admite méritos de todo tipo, menos os intelectuais; estes chegam a ser contrabando. Ela nos obriga a demonstrar uma paciência sem limites com qualquer insensatez, loucura, absurdo, obtusidade. Por outro lado, os méritos pessoais devem mendigar perdão ou se ocultar, pois a superioridade intelectual, sem interferência nenhuma da vontade, fere por sua mera existência. Eis por que a sociedade, chamada de boa tem, tem não só a desvantagem de pôr-nos em contato com homens que não podemos louvar nem amar, mas também a de não permitir que sejamos nós mesmos, tal qual é conveniente à nossa natureza. Antes, nos obriga, por conta do uníssono com os demais, a encolhermo-nos ou mesmo a desfigurarmo-nos. Discursos ou idéias espirituosas só têm sentido perante uma sociedade igualmente rica de espírito. Na sociedade ordinária, são francamente odiados, para serem admirados nela, precisam ser totalmente triviais , limitados. Nessa sociedade, por conseguinte,, temos de renunciar, com difícil auto-abnegação, a ¾ de nós mesmos, a fim de nos parecermos com os demais.


Schopenhauer


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